Por Rafaela Graça Scheiffer

Inspirada pelo projeto Transbordas, da querida Amanda Malucelli, eu compartilho esse relato. Ontem eu finalmente consegui fazer uma visita a essa escola, que é tão famosa no Brasil pelo trabalho de um de seus antigos educadores, José Pacheco, que com seus colegas reformulou o funcionamento da escola e colocou as crianças no centro do processo de educação. É o que eu chamo de Educação “as if people mattered”, lembrando da frase do economista alemão E.F. Schumacher.

Quando lá cheguei, logo conheci o Álvaro, um brasileiro que trabalha na Embaixada do Brasil no Irã e descobrimos que apesar de não sermos educadores formais, somos os dois grandes entusiastas. Fomos recebidos por duas meninas lindas de 12-13 anos, a Cristiana e a Érica, que foram nossas guias e logo nos perguntaram se todos estavam ali e se nós já tínhamos acabado de ler os direitos e deveres dos visitantes. Não podíamos tirar fotos nem entrar em espaços como o Refeitório e certas salas, mas tínhamos direito a fazer todas as perguntas que quiséssemos. Os Direitos e Deveres são escritos pelas próprias crianças e revistos durante o ano, nas assembléias. Essas acontecem nas sexta-feiras e todos os alunos (inclusive os do pré) participam e tem direito de fala.

Cheguei na sala dos mais pequeninos e os vi sentados em torno de uma grande mesa, onde um menino contava uma história aos seus colegas e à sua professora, que lhe fazia perguntas. Metade da sala era espaço de brincar e as paredes estavam cheias de papéis coloridos. Todas as salas tinham, acessível aos alunos, os seus acordos de convivência, o plano de aprendizado para aquela quinzena, o que já foi aprendido, as funções de cada aluno…as salas dos maiorzinhos tinham também listas com tópicos sobre no que precisavam de ajuda, o que gostaram, deixaram de gostar e espaço para críticas…dois computadores, quadros, muitos livros. Os armários coloridos alegram o corredor que conecta as salas de aula, nenhum tem cadeado, todo o material escolar é dado pela escola, que é pública. As janelas são grandes, as paredes removíveis e as crianças passam o dia inteiro na escola. Cristiana me conta que todas elas se conhecem. Também me disse que todos os alunos escolhem um dos professores da escola como tutor para o ano escolar. Eles são encorajados a seguir seus interesses; se um aluno trás um violão em casa, a professora de música pode ensinar ele a tocar. Também podem buscar livros nas turmas mais avançadas para estudar certas matérias, se assim for da vontade deles.

Pelo que eu entendi, além do pré (que não existe lá há muito tempo), eles estão divididos em Iniciação, Concentração e Aprofundamento e cada nível em três grupos – as divisões não são por faixa etária, lá os mais velhos ajudam os mais novos e isso também acontece entre turmas. Eu li na parede que o pré iria ser ajudado pela Iniciação para construir casas de bonecas. Na Iniciação e Concentração, os alunos sentam em grupos de quatro em volta de mesas cheias de pastas e livros; as duas ou três professoras se sentam nas mesas como se fossem mais um aluno. E aquilo me pareceu tão familiar, em Curitiba, estudei em uma escola construtivista que adotava várias dessas práticas, a Escola Palmares, mas que agora se chama Escola Projeto 21. Me pareceu um ambiente onde as crianças fazem muito, protagonizam. A Cristiana responde quando pergunto sobre os alunos do Aprofundamento, “eles são maiores, tem mais tarefas”. Ela também disse que quando um aluno está com dificuldades, ganha tarefas que pode realizar. A escola está toda enfeitada pelos desenhos e poemas dos alunos, assim como mapas e outros trabalhos, um lugar muito gostoso de passear.

Nossas duas guias estiveram com o nosso grupo – eu, Álvaro e mais 4 futebolistas portugueses, entre eles um era professor e pai – por uma hora e meia, mas a visita não tinha duração exata. Ao fim dela, uma funcionária da escola veio abrir um armário para comprarmos umas lembranças da escola; o dinheiro vai para a associação de pais. Preenchemos fichas de contato e fomos ao mural da assembléia descobrir o que eles decidiram na semana passada e então deixamos a Escola da Ponte, que divide o prédio com outra escola (a E.B.I. de São Tomé de Negrelos). Voltamos juntos ao centro do Porto e ouvi pela primeira vez sobre o Movimento Escola Moderna e uma outra escola incrível, dessa vez na Inglaterra, a Summer Hill, que talvez seja minha próxima parada, já que a Small School fundada pelo Satish Kumar já não tem mais alunos…