A Jornada Transbordas tem sido repleta de Céu’s pelo caminho: céu de estrelas cadentes, Céu do Patriarca (SC), CEU Heliópolis (SP) e finalmente Céu do Mapiá (AM)! Em plena e exuberante Floresta Amazônica – na Floresta Nacional do PURUS – os 12 dias no Céu do Mapiá foram um verdadeiro mergulho numa cultura de raízes brasileiras vibrantes que o próprio Brasil desconhece.
A comunidade iniciada pelo Padrinho Sebastião há 35 anos é um dos principais – se não o principal – polos do Santo Daime no Brasil, uma religião de raízes amazônicas e cristãs, que recebeu da medicina da floresta profecias de um “novo povo, novo mundo, novo sistema”, e hoje tem sua doutrina expandida para o mundo todo com mais de 10 mil seguidores. O Céu do Mapiá tem cerca de 600 pessoas vivendo lá, fora os centenas de visitantes todo ano, e serve de inspiração para comunidades mais resilientes e ecovilas de todo o mundo, em constante articulação com a Rede Internacional de Ecovilas (GEN).
 
Tive o privilégio de participar nesses dias do Festival Jovem “Herdeiros do Padrinho”, uma gincana cocriada com uma equipe ES-PE-TA-CU-LAR, com quem tive o privilégio de aprender ainda mais, como Edgard Gouveia Júnior, Edite Faganello Querer, Pedro Araujo Mendes e encabeçada por Ana Carolina Beer Simas, Felipe Simas e o pessoal do Instituto Sócio Ambiental de Viçosa (ISA Viçosa) e o Programa AmaGaia – Educação Gaia na Amazônia.
Inspirado nos princípios do Educação Gaia (currículo para o desenvolvimento sustentável de ecovilas a partir das dimensões social, cultural, econômica e ecológica), no Jogo Oásis em seu divertido formato de game de transformação de comunidades (se não é divertido não é sustentável!) e nos princípios da metodologia Dragon Dreaming (Sonhar, Planejar, Realizar e Celebrar projetos para o ganha-ganha-ganha das pessoas, da comunidade e do planeta), o jogo tinha como missão resgatar no coração da nova geração – filhos e netos dos fundadores que em muitos casos já nasceram lá – a essência da herança do Padrinho Sebastião.
 O Padrinho que inspira esse enredo recebeu a doutrina por meio do seu fundador Mestre Irineu e há décadas já anunciava profecias de tempos difíceis em que os rios iriam secar, a gasolina acabar e nada cresceria por cima da terra, e previa que muitos do mundo inteiro ali chegariam querendo viver e consagrar dos primores da floresta! Junto com a doutrina espiritual deixou como legado um projeto de organização comunitária baseada em valores de Amor, Verdade, Justiça e numa vida plena em harmonia com a Floresta (nossa grande herança) com todas as características do que hoje conhecemos como “Ecovila”!
Foi lindo de ver aqueles jovens transformando os espaços comunitários em projetos como a revitalização da praça,revitalização da ponte, e  organização de uma feira local junto com a celebração dos 35 anos da comunidade. Foi lindo de ver os padrinhos e madrinhas honrando e abençoando a nova geração q principalmente a esta honrando e reconhecendo sua tradição, ao mesmo tempo em que se empoderam de sua energia jovem transformadora e de renovação, para que a essência continue sendo cultivada por muitas e muitas gerações!
Todo esse movimento gerado na verdade faz parte de um movimento  ainda mais amplo que está acontecendo na comunidade, que está articulado entre as várias instâncias e organizações que já vêm sendo fortalecidas no Mapiá, como por exemplo os diversos Grupos de Trabalho, a Associação de Moradores, a igreja ICEFLU, o Centro de Medicina da Floresta, etc. Todos caminhando para o desenvolvimento em todas as dimensões da sustentabilidade!
Como aprendizado pessoal? Muita humildade para conhecer e reconhecer um Brasil rico e diverso, aprender não só com as pessoas como com toda forma de vida! Mais uma vez reconhecendo que “não há nada que eu não consigo sozinha que não possa ser realizado em comunidade” como diria Mag. Waetley, e que “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os seres humanos se libertam em comunhão” como dizia Paulo Freire.