Iniciando um novo ano gregoriano… essa é uma pergunta que vale não só pra 2018, mas para os próximos anos, séculos, e anos-luz adiante… Quanto mais ando, rodo e me deparo com os mais diversos cenários, mais tenho me perguntado:

O que estamos fazendo? Para onde estamos indo?

Será que, se olhássemos de cima, de loooonge, de uma outra dimensão, seríamos capazes de ver o quão irracionais, ridículos, insanos, patéticos, insensíveis e ignorantes somos nessa “boiada” coletiva?

E se olhássemos bem de perto, bem profundo, de dentro, seríamos capazes de notar o quão fabulosos, belos, amorosos, generosos, divertidos, potentes, criativos e cativantes somos nessa humanidade que compartilhamos? O quão sensíveis, verdadeiros, passionais e compassivos podemos ser ao partilhar um único olhar?

Do ponto de vista do cosmos, ou de um filamento do DNA, do ponto de vista civilizatório, ou do centro de quem fecha os olhos em oração, são sempre essas imagens – O MACRO E O MICRO – que me trazem a perspectiva de nossa jornada coletiva e me fazem repetir a pergunta: 

O que estamos fazendo? Para onde estamos indo, como humanidade? 

Imagens de multidão, trânsito, movimento, ritmo, velocidade, tomadas aéreas, time lapses revelam a intensidade e a voracidade de nossa dança na Terra. Imagens de brilhos no olhar, detalhes, toques, conexões íntimas entre o indivíduo fotografado e o observador, Ahhh essas me tomam de comoção e me perguntam a mim:

O que você está fazendo? Para onde está indo? Não estamos todos juntos nessa?

Chegar no Museu do Amanhã me arrebatou de novo nessas indagações, já num outro nível… agora sim, conduzida por essa “capsula” pelo túnel do tempo… Começando do macro, ao trazer a linha do tempo do Universo, numa perspectiva Cosmológica e Histórica para nos situar onde estamos nesse cosmos… [ALERTA DE SPOILER… A seguir muitos detalhes da exposição!]

De onde viemos? Quem Somos? Onde estamos? Para onde vamos?

Surgido  há 13,7 bilhões de anos de existência, o Universo preencheu o vazio em 3 minutos e lá estámos nós… dentro do superglomerado Lanikea, que engloba mais de 100 mil galáxias, dentro dessas o superglomerado de Virgem, 200 milhões de anos-luz de diâmetro, que tem entre os 100 grupos de aglomerados o nosso Grupo Local, concentração de galáxias a qual pertence a Via Láctea, bela dançante que gira a uma velocidade de 552 mil m/s e, entre suas 220-400 bilhões de estrelas, lá está o Sol e seu sistema solar com seus 4,66 bilhões de anos, seu vento de 800 mil m/s, do qual estamos há 26.100 anos-luz e somos apenas um dos 8 planetas (excluindo o coitado do Plutão), girando a uma velocidade de 29.780 m/s (nada comparado à velocidade da luz que é de quase 300 milhões de m/s).  É SÓ isso que nós somos, poeira cósmica da poeira cósmica, nesse planetinha que já nos parece tããão imenso…

Trazendo para a conversa ainda o tempo, o espaço, matéria e anti-matéria, telas interativas apresentam as densidades e velocidades do cosmos – quem diria que de uma energia sutil como a interestelar, chegaríamos em densidades tais como a do núcleo da Terra, que não é mais denso do que o núcleo do átomo, que por sua vez só perde para a densidade de uma estrela de neutrons, para a densidade infinita de um buraco negro ou a densidade negativa de um buraco branco, que por sua vez só perdem pra ideia de Singularidade Primordial – densidade, pressão, temperatura, etc infinitas. Ufa, que aula!!

Se alguém não acredita na desescolarização, tente passar uma semana com as crianças nesse museu e você vai sentir que não precisa manda-las pra escola por pelo menos alguns anos…Um prato cheio para muitos temas de pesquisa e projetos de virar astronauta… Já na entrada uma aula de astronomia, física, química, matemática… E como uma criança deslumbrada que deseja intensamente descobrir mais sobre algo, a gente se vê aprendiz… movido apenas pelo fascínio de olhar o céu… 

Tudo isso pra dar um zoom nesse que chamamos de Planeta Terra, nossa terra, nossa casa, nossa mãe Gaia. 

O que estamos fazendo? Para onde estamos indo como Planeta?

Mais e mais aulas de geologia, geografia, biologia… A vida na terra surgindo há 1,1x10(17) segundos ou 3,5 bilhões de anos, a Pangéa há 9,4 x 10(15) segundos, 588 segundos é o tempo para a reprodução de uma basctéria, 3.900 segundos para mitose das células, e como eu queria pelo menos um pouco ter decorado o que me fizeram copiar na escola… 

Até que finalmente chegamos no momento em que surgimos no planeta –  200 mil anos atrás ou apenas 6,3 x 10(12) segundos atrás – mais ou menos só o dobro do tempo que leva 1 fóton do interior do Sol para a superfície – menos tempo que a formação de uma estrela – e o no momento em que começamos a dominar geral…O Antroposceno. Essa nossa necessidade de meter o humano em tudo e o humano se meter em tudo… o que fomos capazes de fazer com nossos pensamentos e sinapses de velocidade 150 m/s – menos da metade da velocidade do som, pouco menos de 0,06% da velocidade do Sol na Via Láctea – e ainda sim conseguimos construir uma sonda espacial com mais de 2x a velocidade da Terra, usando de maneira ínfima o potencial do cérebro, sem contar as outros centros de inteligência do(s) corpo(s)…

Seguimos a viagem questionando então os efeitos, os impactos, impressões deixadas pelo humano em suas diversas civilizações, culturas, impérios e comunidades. Percebemos que em todas as culturas, cada uma com sua própria narrativa, facetas, cores, acordos e alegorias, sempre sentimos, amamos, pertencemos, consumimos, praticamos fé, habitamos…. sempre dançando entre polaridades, igualdade, poder, ancestralidade, inovação, produção e consumo, excesso, lixo, música, rituais de nascimento e morte, identidade, tradição… 

Caçamos e coletamos (60 mil anos atrás) desenvolvemos a agricultura (10 mil anos atrás), partimos para Grandes Navegações (1400), geramos uma Revolução Industrial (1700), e com a aceleração do Antroposceno (1950), finalmente atingimos os 7 bilhões de pessoas (2011) com todos os efeitos colaterais disso tudo…

O que estamos fazendo? Para onde estamos indo, como humanidade?

Mais aulas de arqueologia, antropologia, sociologia, ciências humanas e políticas…E não é que, nesse espaço educativo as “ciências econômicas”,  “de repente”,  não eram mais o foco, desculpa, justificativa e centro de atenção? Olhava-se agora para a atuação do ser humano nos sistemas e questionava-se o real “cuidar da casa”. Mas o olhar amplo e integral trazia uma realidade inevitavelmente calamitosa … Inevitavelmente dados de todas as áreas de conhecimento apontam um futuro incerto e tenebroso, com todas as previsões apocalípticas que já conhecemos…

O que estamos fazendo? Para onde estamos indo? – não parava de se repetir…

É aí que o nome do museu se faz presente, valendo-se da memória natural, ancestral, material, histórica trazendo a dimensão de quem fomos – humanos, terráqueos, habitantes da Via Láctea – até o presente momento, o que fizemos e até onde fomos… Agora sim vem o AMANHÃ que dá nome ao museu, com as perguntas finais: 

Para onde queremos ir? Como queremos ir? O que queremos fazer a respeito? 

QUE AMANHÃ NÓS QUEREMOS?

Nesse ponto somos convidados a entrar no jogo, literalmente, e contribuir para possíveis cenários, claro que quem “vence” o jogo somos todos nós, a medida que conseguimos nos aproximar de um cenários mais Éticos e Sustentáveis. Seja na perspectiva da biodiversidade, do aquecimento global, das civilizações e cidades, só é possível “nos salvar” todos juntos e com muita cooperação.

O último jogo nos traz para uma perspectiva ainda mais pessoal do tipo – é com você mesmo, cara pálida! – quando brincamos de responder um teste que mostra “que tipo de humano você é”… o cientista pé atrás, o hippie natureba sossegado ou o explorador fissurado em inovação… não tem certo ou errado, temos todos nós pisando no mesmo solo e costurando esses futuros possíveis!

E falando em costurar futuros, a última instalação prepara o espírito para a saída, numa estrutura parecida com um domo geodésico, ao centro está uma grande Churinga com as inscrições: “Churinga é uma ferramenta simbólica milenar da cultura aborígene australiana que serve para costurar o tempo, conectando passado e futuro. O Museu aspira ser uma churinga para o Século XXI.”

E o museu é de fato uma bela agulha de costura no tempo, fundado em dezembro de 2015, com uma arquitetura incrível repleta de painéis solares, não só é o mais novo museu do Rio, como o mais efêmero, como não poderia deixar de ser em nossos tempos. Imagine um museu que – em vez de antiguidades – traz reflexões tão profundas e informações tão precisas quanto atuais, um museu que dia a dia vai se tornando obsoleto em suas previsões de futuro e, Deus queira, que nosso amanhã seja melhor do que todos os cenários que eles foram capazes de projetar em possíveis 2025, 2050, 2100. Ao chegar nessas décadas seu papel não será manter-se atualizado, mas quem sabe checar o quanto fomos capazes de avançar. Sua importância não está em guardar a história, mas em revelar em uma frestinha visões possíveis da história que queremos construir, nós mesmos, que somos aqueles que estávamos esperando, logo ali na saída do museu…

E com esse ar de vazio e plenitude existencial, com a agulha do tempo nas mãos, capaz de quase me questionar da necessidade de permanecermos por aqui, e ao mesmo tempo com um forte senso de responsabilidade por aqui estar, constatando e assumindo toda nossa jornada de evolução e seus efeitos colaterais, a incerteza e a redenção como artefatos suficientes para seguir em frente, eis que a visita termina no momento em que somos lançados de volta para o horizonte. Saindo do prédio branco e futurista, em um cenário  minimalista, à frente um espelho d’água e o mar do Rio de Janeiro – coração do Brasil no Cristo de braços abertos – horizonte aberto.

Com o peso do mundo nas costas, pronta para entregar ao mar. Celebrando, honrando e em tudo dando graças pela nossa história, sem bom nem ruim, tudo necessário, contemplo o cenário,silêncio, brisa do mar…

Um olhar para o mais fundo do cenário, uma inspiração profunda, uma expiração longa… 

E aí… O que será do Amanhã? Você tá preparado@?